A lei é Maria da Penha, mas o judiciário é João de Deus
São 13 anos de Lei Maria da Penha mas a violência continua.
DIREITOS DA MULHER
Rita Rosa
10/17/20204 min read


Olá Poderosa,
Em 2020 a Lei Maria da Penha completa 13 anos e o que temos visto nos noticiários é um aumento de feminicídio a cada ano.
Segundo a matéria publicada pela Agência Brasil de notícias a cada dez feminicídios cometidos em 23 países da América Latina e Caribe em 2017, quatro ocorreram no Brasil.
As informações da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), ao menos 2.795 mulheres foram assassinadas na região, no ano retrasado, em razão de sua identidade de gênero. Desse total, 1.133 foram registrados no Brasil.
A comissão Interamericana de direitos humanos afirma que 126 mulheres foram mortas no Brasil desde o começo do ano em razão do seu gênero, além de 67 tentativas de homicídios.
Isso tudo mesmo com a Lei Maria da Penha em vigor desde 2006.
A violência contra a mulher acontece em casa e tem várias facetas o que faz com que a própria mulher não reconheça no seu parceiro um agressor.
A princípio ela até se sente elogiada quando ele grita com ela por quê o vizinho pediu emprestado uma furadeira. Ela se justifica dizendo que ele é louco por ela e morre de ciúmes.
E assim ela vai se enganando e dando poder ao seu parceiro.
Ele grita, xinga, joga as coisas no chão e ela continua se justificando que ele é estourado, teve problemas no trabalho e morre de ciúmes dela.
Assim a vida segue e ela não se dá conta que já é uma vítima de agressão, primeiro vem a agressão verbal que na maioria das vezes dói mais que um tapa na cara.
Depois ele começa a levar essas agressões pra fora de casa e grita com ela na frente de qualquer pessoa, a humilha e envergonha.
Então quando ela percebe o medo já tomou conta dela fazendo com que se submeta às vontades do seu agressor.
Até que um dia ele vai além, ele bate nela e ainda ameaça que se ela falar pra alguém ele a mata ou pior irá matar seus filhos. Ela não lembra da Lei Maria da Penha porque o medo é maior.
Os dias vão passando e ela vai se afundando cada vez mais, cheia de medo e insegurança.
Depois de defender seus filhos e levar muitos murros na cara ela vai na delegacia da mulher e o delegado a trata com desdém, pouco ouve o que ela tem pra falar.
A primeira pergunta que ele faz é o que ela fez para que seu companheiro tivesse aquela reação.
Ele faz o BO, e ela vai embora certa que o pior virá, mas ela não tem o apoio necessário para botar a boca no trombone.
No outro dia o companheiro recebe uma notificação, enche ela de porrada e no dia seguinte ela vai retirar a queixa pra não morrer.
Um mês depois ela é encontrada morta dentro de um carro toda esfaqueada. Quem fez tal atrocidade? Sim o companheiro.
Segundo artigo publicado pela Folha de São Paulo sobre uma recente pesquisa qualitativa feita pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em parceria com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o judiciário faz perguntas onde tenta colocar a culpa nas mulheres em relação às violências sofridas, há um caso em que o juiz saiu da sala na hora que a vítima contava sobre o ocorrido. Pouco caso absoluto!
E se fosse com a mãe ou a filha dele?
Infelizmente estamos vivendo em um mundo que as pessoas fecham os olhos para o problemas dos outros e a justiça que não poderia ser cega vai de mal a pior.
Quem vai ter medo de uma justiça que coloca um monstro como o médico Roger Abdelmassih em prisão domiciliar vivendo em um apartamento de luxo em São Paulo?
Quem vai acreditar em uma justiça que deixa o Nardone que matou a filha covardemente sair no indulto do Dia dos Pais?
Fica difícil não é mesmo?
A pesquisa também mostrou o que muitas mulheres sabem pouco ou quase nada sobre a lei Maria da Penha, elas apenas ouviram na TV ou na novela sobre ela.
Confira a matéria na íntegra aqui.
Sentir-se vulnerável diante de homens agressivos é uma situação tão comum na vida das mulheres. Isto ficou bem claro com a triste história do “santo milagroso” João de Deus.
Que monstro é esse?
A situação de abuso era tão imprópria no contexto de ir ser curada e não abusada, que as mulheres saiam envergonhadas de lá e com medo de se expor e a justiça mais uma vez não enxergava a verdade.
Foi preciso dezenas de vítimas contarem suas histórias para que ele fosse preso realmente.
Assim continuamos no mesmo arroz com feijão,13 anos se passaram com a Lei Maria da Penha, a tecnologia evolui fantasticamente mas o ser humano consegue regredir a cada dia.
Continuamos vivendo em um país onde o machismo predomina, onde o preconceito ainda mata pessoas inocentes que só querem ser felizes.
Espero que nos próximos anos mais mulheres possam ser educadas para identificar e se libertar de seus agressores e que mais homens entendam que eles não são donos de ninguém e que não tem o direito de agredir outro ser vivo por quaisquer razões que seja.
E que nosso judiciário tire a venda e faça seu trabalho como tem que ser feito! Com justiça!
Você já passou por uma situação de violência? Me conte sua história.
Mande um e-mail para contato@poderosadepoisdos50.com e vamos trocar uma ideia.